A Marca da Besta.
“fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e
pobres, livres e escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na
testa, para que ninguém pudesse comprar ou vender, senão aquele que tivesse o
sinal…” (Ap 13:16-17)
Assim como é o caso
do número da besta,
a marca da besta também sempre foi causa de muita especulação. Muitos daqueles
que interpretam a besta como significando algo contemporâneo ou futuro a nós
que estamos no século XXI acreditam que a marca da besta será algum tipo de
chip implantado sob a pele das pessoas de forma que esse se torne o único meio
de efetuar transações econômicas. Costumam acreditar que existe em nosso
próprio tempo uma conspiração mundial para unificar todo o sistema econômico do
mundo de forma que tudo seja submetido ao poder da besta. Mas em um livro cheio
de dragões, bestas e criaturas semelhantes, é fatal achar que não devemos
pensar duas vezes antes de entender as visões literalmente. Devemos comparar
Escritura com Escritura e não Escritura com nossa própria imaginação para
chegar a conclusões sólidas sobre o que cada símbolo significa. Devemos
procurar na própria Bíblia pistas pra compreender o que o Apocalipse significa
em fez de deixar nossa imaginação voar com base no noticiário do dia.
A ideia de um povo
sendo marcado na testa ou na mão tem origem no livro de Deuteronômio: “Ouve, ó
Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. E estas
palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus
filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te
e ao levantar-te. Também as atarás porsinal na tua mão e
te serão por frontais
entre seus olhos”. (Dt 6.4-8) Este mandamento foi
citado por Jesus Cristo como sendo maior de todos os mandamentos da Lei de
Deus: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás
ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu
entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento”. (Mt 22.36-38) O coração,
sendo um órgão de nosso corpo, não pode ser aberto por meio de uma cirurgia pra
que literalmente escrevamos palavras lá. Também não era possível que toda a Lei
de Deus fosse literalmente atada na mão ou na testa entre os olhos . A ordem de
Deus aqui não pode possivelmente ser entendida literalmente. A linguagem aqui é
evidentemente figurada.
Na Bíblia o coração costuma se
referir figuradamente ao centro das vontades, desejos e intenções do homem.
Quando Deus diz que sua Lei deve ser inscrita em nossos corações, ele não está
mandando que façamos uma cirurgia. Ele está ordenando que nossas vontades e
desejos sejam submissos aos seus mandamentos. Assim também, quando ele fala da
Lei de Deus na testa diante de nossos olhos, ele está falando figuradamente que
devemos amar a Deus “de todo o teu entendimento”. (Mt 22.37) E quando Deus fala
de sua Lei atada em nossa mão, ele está falando figuradamente do dever de
amá-lo “de todas as tuas forças”. (Dt 6.5)
Esse é o pano de
fundo para a visão da marca da besta. Os servos da besta não tem a Lei de Deus
atada na testa (mente) ou na mão (força). Eles não prestam obediência a Deus e
sim a besta. O objetivo do Apocalipse não era alertar sobre um chip que só
viria séculos depois.
Era alertar sobre o perigo de prestar obediência e culto aos imperadores de
Roma. Era alertar sobre o perigo de substituir os mandamentos de Jesus Cristo
pelos mandamentos de deuses pagãos. Quando João mandou seus destinatários não
fossem marcados pela besta, isso realmente era uma possibilidade a eles. Não
seria possível somente para nós mais de dois mil anos depois, mas era algo para
aqueles que estavam sendo perseguidos e caçados por Roma. Aqueles que se
recusavam a adorar Nero eram brutalmente perseguidos. Não podiam levar suas
vidas normalmente. Não podiam comprar ou vender. Perdiam a casa, a família, os
bens, a honra e até a própria vida.
A marca da besta não é a única marca do Apocalipse.
Alguns versos depois, lemos sobre outros que também foram marcados: “E olhei, e
eis o Cordeiro em pé sobre o Monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro
mil, que traziam na testa escrito o nome dele e o nome de seu Pai”. (Ap 14.1)
Esta não era uma tatuagem que Deus faria na testa de seus eleitos. É somente
uma forma figurada de falar da obediência daqueles que tiveram coragem de
resistir ao Império. Podiam ser roubados, perseguidos e brutalmente
assassinados. Mas “venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu
testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte”. (Ap 12.11) Isto é o que o
próprio Jesus já havia ensinado: “Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem
perder a sua vida por amor de mim achá-la-á”. (Mt 10.39)