“Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1.11). Assim como Ele partiu visivelmente na nuvem da shekinah, Ele voltará visivelmente nessa nuvem de glória.
domingo, 22 de novembro de 2015
terça-feira, 4 de agosto de 2015
A Marca da Besta.
“fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e
pobres, livres e escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na
testa, para que ninguém pudesse comprar ou vender, senão aquele que tivesse o
sinal…” (Ap 13:16-17)
Assim como é o caso
do número da besta,
a marca da besta também sempre foi causa de muita especulação. Muitos daqueles
que interpretam a besta como significando algo contemporâneo ou futuro a nós
que estamos no século XXI acreditam que a marca da besta será algum tipo de
chip implantado sob a pele das pessoas de forma que esse se torne o único meio
de efetuar transações econômicas. Costumam acreditar que existe em nosso
próprio tempo uma conspiração mundial para unificar todo o sistema econômico do
mundo de forma que tudo seja submetido ao poder da besta. Mas em um livro cheio
de dragões, bestas e criaturas semelhantes, é fatal achar que não devemos
pensar duas vezes antes de entender as visões literalmente. Devemos comparar
Escritura com Escritura e não Escritura com nossa própria imaginação para
chegar a conclusões sólidas sobre o que cada símbolo significa. Devemos
procurar na própria Bíblia pistas pra compreender o que o Apocalipse significa
em fez de deixar nossa imaginação voar com base no noticiário do dia.
A ideia de um povo
sendo marcado na testa ou na mão tem origem no livro de Deuteronômio: “Ouve, ó
Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. E estas
palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus
filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te
e ao levantar-te. Também as atarás porsinal na tua mão e
te serão por frontais
entre seus olhos”. (Dt 6.4-8) Este mandamento foi
citado por Jesus Cristo como sendo maior de todos os mandamentos da Lei de
Deus: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás
ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu
entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento”. (Mt 22.36-38) O coração,
sendo um órgão de nosso corpo, não pode ser aberto por meio de uma cirurgia pra
que literalmente escrevamos palavras lá. Também não era possível que toda a Lei
de Deus fosse literalmente atada na mão ou na testa entre os olhos . A ordem de
Deus aqui não pode possivelmente ser entendida literalmente. A linguagem aqui é
evidentemente figurada.
Na Bíblia o coração costuma se
referir figuradamente ao centro das vontades, desejos e intenções do homem.
Quando Deus diz que sua Lei deve ser inscrita em nossos corações, ele não está
mandando que façamos uma cirurgia. Ele está ordenando que nossas vontades e
desejos sejam submissos aos seus mandamentos. Assim também, quando ele fala da
Lei de Deus na testa diante de nossos olhos, ele está falando figuradamente que
devemos amar a Deus “de todo o teu entendimento”. (Mt 22.37) E quando Deus fala
de sua Lei atada em nossa mão, ele está falando figuradamente do dever de
amá-lo “de todas as tuas forças”. (Dt 6.5)
Esse é o pano de
fundo para a visão da marca da besta. Os servos da besta não tem a Lei de Deus
atada na testa (mente) ou na mão (força). Eles não prestam obediência a Deus e
sim a besta. O objetivo do Apocalipse não era alertar sobre um chip que só
viria séculos depois.
Era alertar sobre o perigo de prestar obediência e culto aos imperadores de
Roma. Era alertar sobre o
A marca da besta não é a única marca do Apocalipse.
Alguns versos depois, lemos sobre outros que também foram marcados: “E olhei, e
eis o Cordeiro em pé sobre o Monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro
mil, que traziam na testa escrito o nome dele e o nome de seu Pai”. (Ap 14.1)
Esta não era uma tatuagem que Deus faria na testa de seus eleitos. É somente
uma forma figurada de falar da obediência daqueles que tiveram coragem de
resistir ao Império. Podiam ser roubados, perseguidos e brutalmente
assassinados. Mas “venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu
testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte”. (Ap 12.11) Isto é o que o
próprio Jesus já havia ensinado: “Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem
perder a sua vida por amor de mim achá-la-á”. (Mt 10.39)
segunda-feira, 22 de junho de 2015
O arrebatamento: O que as Escrituras ensinam?
O arrebatamento: O que as Escrituras ensinam?
Importante: O texto a seguir é de autoria de William
Hendriksen (1900/1982). Renomado pastor, professor e autor de diversos
comentários bíblicos, foi uma das maiores autoridades da atualidade na
escatologia cristã.
Leitura Bíblica: 1Ts 4:13-18.
Tendo refutado a concepção dispensacionalista relativa ao arrebatamento, deixe-nos agora mostrar o que as Escrituras de fato ensinam a respeito disto:
Um arrebatamento? Sim, mas será tanto “com” quanto “para” os santos.
A conversão dos tessalonicenses era muito recente. O perigo de recaída às convicções e costumes pagãos não era improvável. Uma destas crenças pagãs era a lamentação pelos mortos, como se não houvesse nenhuma esperança. Mas seguramente para o cristão há esperança. Para ele há um futuro glorioso, para sua alma e seu corpo. Por isso, o aflito não deveria se entristecer “como os demais, que não têm esperança”. O apóstolo continua, dizendo que:
“Se cremos que Jesus morreu e
ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que
dormem”.
Note: “com ele”. Este é o significado: O mesmo Deus
que ressuscitou Jesus dos mortos também ressuscitará dos mortos os que
pertencem a Jesus. Ele os trará com Jesus do céu, ou seja, ele trará a sua alma
do céu, de forma que ela poderá ser reunida rapidamente, num instante, ao seu
respectivo corpo, no qual ela sairá para encontrar o Senhor nos ares. Quando o
Senhor, em sua natureza humana, deixar o céu, estas almas partirão com ele. Mas
tenha em mente que Jesus deixará o céu em alma e corpo. As almas, porém, descem
até a terra a fim de serem reunidas a seus respectivos corpos. Então estas
pessoas ressuscitadas ascenderão rapidamente, para encontrar Jesus enquanto ele
ainda estiver “nos ares”. E assim, nós veremos que nosso Senhor vem com os seus
santos, ou seja, com as suas almas e para seus santos, isto é, para eles por
inteiro (sua alma e seu corpo). Isto tudo corresponde a uma única volta.
Se os dispensacionalistas estivessem corretos, a vinda com os santos seria sete anos após a vinda para seus santos. Esqueça tudo sobre os sete anos. Estes intérpretes estão colocando a carroça à frente dos bois. Há uma vinda, mas com relação a esta vinda de Cristo, o “com” de fato precede o “para”, e não ao contrário. Porque nós lemos no versículo 14:
Se os dispensacionalistas estivessem corretos, a vinda com os santos seria sete anos após a vinda para seus santos. Esqueça tudo sobre os sete anos. Estes intérpretes estão colocando a carroça à frente dos bois. Há uma vinda, mas com relação a esta vinda de Cristo, o “com” de fato precede o “para”, e não ao contrário. Porque nós lemos no versículo 14:
“Deus, mediante Jesus, trará, em sua
companhia” (esses que dormiram).
E, então, os versículos 16 e 17 nos dizem que as
pessoas, cada alma reunida a seu corpo, serão arrebatadas, portanto, é pelo
poder de Deus através de Cristo que elas ascendem, pois Jesus veio para elas,
para sempre estar com elas, e elas com ele.
Um arrebatamento? Sim, mas definitivamente não mil anos antes da ressurreição dos ímpios.
Os dispensacionalistas gostam de frisar a declaração de que “os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (1Ts 4:16). Eles interpretam como se a passagem inteira estivesse nesta ordem:
Um arrebatamento? Sim, mas definitivamente não mil anos antes da ressurreição dos ímpios.
Os dispensacionalistas gostam de frisar a declaração de que “os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (1Ts 4:16). Eles interpretam como se a passagem inteira estivesse nesta ordem:
“E os mortos EM CRISTO ressuscitarão
primeiro. Então, mil anos depois, os mortos NÃO EM CRISTO ressuscitarão”.
Porém, em nenhuma parte no parágrafo inteiro Paulo
diz “então, os mortos NÂO EM CRISTO ressuscitarão”. Paulo só está pensando em
crentes, em ninguém mais. Ele está mostrando um contraste entre “os mortos” em
Cristo e “os que ainda estão vivendo” em Cristo.
Por um lado, haverá os crentes que, na vinda de Cristo, já estarão mortos. Por outro, haverá os sobreviventes, filhos de Deus que ainda estarão vivendo na terra. O que o apóstolo está dizendo, então, está complementando isto:
Por um lado, haverá os crentes que, na vinda de Cristo, já estarão mortos. Por outro, haverá os sobreviventes, filhos de Deus que ainda estarão vivendo na terra. O que o apóstolo está dizendo, então, está complementando isto:
“Não se preocupem sobre seus entes
queridos que morreram no Senhor. Em sentido nenhum eles sofrerão qualquer dano
quando Jesus voltar. Pelo contrário, os que ainda estiverem vivos na terra
terão que esperar um momento até que as almas dos que morreram reabitem seus
corpos. Naquele momento de espera, os sobreviventes serão transformados num
piscar de olhos. Então, juntos, como uma grande multidão, esses, que antes
constituíram dois grupos, irão encontrar o Senhor”.
Assim, por favor, coloque ênfase na palavra certa,
e leia como segue:
“E OS MORTOS em Cristo ressuscitarão
primeiro; depois, NÓS, OS VIVOS, os que ficarmos, SEREMOS ARREBATADOS
juntamente com eles, entre as nuvens”.
Um arrebatamento? Sim, mas não secreto e
silencioso.
Note as palavras:
Note as palavras:
“Dada a sua palavra de ordem, ouvida
a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus”.
Este foi chamado de “o versículo mais ruidoso na
Bíblia”. Seguramente, este versículo indica que a vinda do Senhor será pública
e audível. Para detalhes da explicação sobre a natureza deste grito de comando,
do arcanjo e da trombeta, leia atentamente meu Commentary on Thessalonians
(Comentários do Novo Testamento – 1 e 2 Tessalonicenses). O retorno de Cristo
será claramente visível (Ap 1:7).
Um arrebatamento? Sim, mas não sob o ponto de vista das bodas de sete anos.
Nós lemos:
Um arrebatamento? Sim, mas não sob o ponto de vista das bodas de sete anos.
Nós lemos:
“Estaremos para sempre com o Senhor”.
Por favor, observe que as palavras são “para
sempre”, e não “sete anos”. Para sempre com o Senhor. Como isso será
maravilhoso!
“Então, encorajem-se uns aos outros
com estas palavras.”
Sinais dos Tempos
Sinais dos Tempos: Como identificá-los e saber que o fim está próximo? Por Franklin Ferreira.
Entrevista originalmente concedida a Aline Campos, editora da revista Movimento Gospel Nº 18, Set-Out (2014), p. 28-30.
"E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, em testemunho a todas as nações. Então virá o fim" (Mt 24.14)
Quais são os sinais do fim dos tempos?
Os
sinais que precederão a vinda de Cristo são: 1) o evangelho será
proclamado a todos os povos (Mc 13.10); 2) uma futura conversão de
Israel (Rm 11.25-29), que será a culminação da aliança da graça e da
história da redenção; 3) a grande tribulação e a grande apostasia
ocorrendo juntas (Mt 24.9-12,21-24); 4) a revelação do anticristo, o
“homem da iniquidade” (2Ts 2.1-12); 5) o recrudescimento das guerras,
fomes e terremotos em diversos lugares, o que é descrito como o
“princípio das dores” (Mt 24.8); 6) a criação será abalada (Mt 24.29).
Então, como o clímax destes sinais, “como o relâmpago sai do oriente e
se mostra até no ocidente”, todos “verão o Filho do Homem vindo sobre as
nuvens do céu, com poder e muita glória” (Mt 24.27, 30).
Os acontecimentos dos nossos dias são sinais dos tempos?
Ainda
que esses sinais aconteçam durante a história, parece que eles ocorrerão
simultaneamente na iminência do fim. Parece que a chave para entender
esses sinais é oferecida em Mateus 24.33: “Quando virdes todas essas
coisas, sabei [ou você saberá] que ele [o fim] está próximo, às portas”.
Na iminência da vinda de Cristo, as guerras, os terremotos, a fome, as
epidemias, “os poderes dos céus” abalados (Mt 24.29) acontecerão todos
ao mesmo tempo, assim como sobrevirá a grande tribulação e a conversão
de Israel.
Onde e como podemos identificá-los?
Estes
sinais ocorrerão simultaneamente, antes do retorno de Cristo. Por isso,
lembramos que existem nas Escrituras passagens que nos incentivam a
estar prontos para a inesperada vinda de Cristo, estimulando-nos a estar
preparados e vigilantes. Portanto, provavelmente, estes sinais serão
mais intensos e extensos que as ocorrências parecidas que os precederam
durante a história. E, me parece, esses sinais, não podem ser
considerados independentemente, mas em conexão com a grande tribulação.
Quando eles ocorrerem, serão reconhecidos pelos filhos de Deus como o
que realmente são.
Quais as prerrogativas para a volta do Senhor?
A
segunda vinda de Cristo será um evento único, que ocorrerá no “dia do
Senhor”, um termo que se refere especialmente à sua vinda em glória.
Cristo voltará uma única vez, corporal e visivelmente, gloriosa e
triunfalmente, para vencer cabalmente todos os poderes do mal e renovar a
criação.
A questão dos conflitos mundiais, doenças, guerras, a fome no mundo são sinais da vinda de Jesus?
A
Escritura ensina que o tempo exato da vinda de Cristo é desconhecido.
Isso significa que uma vigilância contínua pela vinda de Cristo é
exigida; devemos estar prontos para uma vinda inesperada, já que os
sinais podem acontecer simultaneamente, num pequeno período de tempo.
Mas devemos notar que esses sinais estiveram presentes no tempo do Novo
Testamento, ao longo da história e estão presentes agora. Ainda que
esses sinais tenham aparecido durante toda a história, antes da volta de
Cristo eles se intensificarão, dirigindo-se para o clímax. Portanto, ao
considerarmos a exortação à vigilância (Mt 24.32,33), não precisamos
interpretá-la como uma exortação para se buscar sinais imediatos do
aparecimento do Senhor. Antes, trata-se de uma exortação para
permanecermos ativos na realização da obra do Senhor, para não sermos
surpreendidos por sua vinda.
O mundo será destruído?
Ainda
que esta ideia seja popular, especialmente pela influência do
fundamentalismo americano do começo do século 20, a posição bíblica,
afirmada pela tradição reformada conectada com João Calvino, afirma o
conceito de renovação da criação. Por isso, é importante ter em mente
uma compreensão firmemente bíblica de Deus: o Eterno é o criador e
renovador da criação, sustentando-a por sua providência. A Escritura
nunca apresenta o Senhor Deus como destruidor.
Como
Anthony Hoekema escreveu [em seu livro A Bíblia e o futuro], “tanto em
2Pedro 3.13 como em Apocalipse 21.1, o termo grego utilizado para
designar a novidade do novo cosmos não é neos mas sim kainos. A palavra
neos significa novo em tempo ou origem, enquanto a palavra kainos
significa novo em natureza ou em qualidade. A expressão (...) ‘novo céu e
nova terra’ (Ap 21.1) significa, portanto, não a emergência de um
cosmos totalmente outro, diferente do atual, mas a criação de um
universo que, embora tenha sido gloriosamente renovado, está em
continuidade com o universo presente”.
Portanto,
a Escritura nos assegura que Deus criará uma nova terra na qual
viveremos para seu louvor, com corpos ressurretos e glorificados. Nessa
nova terra é que esperamos passar a eternidade, desfrutando de suas
belezas, explorando seus recursos e utilizando seus tesouros para a
glória de Deus. Uma vez que Deus fará da nova terra seu lugar de
habitação, e uma vez que o céu é onde Deus habita, estaremos no céu
enquanto estivermos na nova terra. Tudo que é bom na cultura, que pela
graça de Deus pode ser aproveitado em seu reino, será renovado e
aperfeiçoado na nova criação. Em outras palavras, o “novo céu e a nova
terra” será tanto um estado como um lugar, onde “o SENHOR está presente”
(Ez 48.35).
O que precisamos entender sobre o milênio?
Há uma
só passagem bíblica que cita a noção de “mil anos” (Ap 20.1-15). E muito
já foi escrito sobre esse texto, derivando daí quatro posições
principais sobre o milênio, as quais listo em ordem cronológica, isso é,
na medida em que surgiram no decorrer da história da igreja:
pré-milenismo histórico, amilenismo (posição conhecida como “milenismo
realizado”), pós-milenismo e pré-milenismo dispensacional. Ainda que
muito tenha sido escrito num tom polêmico, é preciso dizer que todas
estas posições são opções legítimas dentro da tradição cristã e
evangélica. Mas, me parece, tão ou mais importante que afirmar uma
interpretação sobre o milênio é tentar entender as implicações práticas
de tal posição. Por exemplo: quais são as implicações de certa
interpretação quanto ao milênio para a relação com a cultura, arte,
política, economia, igreja, evangelização e missões? Este é um estudo
extremamente frutífero e que redundaria em mais humildade na hora de
debatermos as interpretações quanto ao milênio – além de reservar
algumas surpresas para os que dedicarem-se a tal estudo.
O evangelho será pregado em todo o mundo antes do fim?
O
evangelho não será pregado a todas as pessoas, mas deverá ser pregado a
todo grupo étnico. A palavra grega usada em Marcos 13.10, traduzida por
“nações”, é ethnē, que pode ser traduzida como “países” e “nações”, mas
também como “famílias” e “tribos”. A implicação é que quando todos os
grupos étnicos tiverem conhecimento do evangelho, então virá o fim. Daí a
necessidade de priorizarmos a tarefa missionária, especialmente entre
os povos não alcançados, investindo os melhores esforços na tradução da
Escritura para idiomas que ainda não têm acesso às porções bíblicas.
Podemos interpretar eventos isolados como indicação do fim dos tempos?
A
respeito da segunda vinda de Jesus não é possível determinar com
precisão uma data. Sobre isso, ele mesmo declarou: “Mas, quanto ao dia e
à hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão somente o
Pai” (Mt 24.36). Não se pode saber, então, a ocasião exata do retorno
de Cristo. Todas as tentativas que as seitas têm feito para determinar o
momento preciso desse retorno acabam por mostrar o quanto elas estão
erradas em suas previsões. O que se pode dizer, com certeza, é que
Cristo virá em hora inesperada. Por isso, devemos estar atentos.
Qualquer um, portanto, que afirme conhecer a data em que Cristo virá,
independentemente de quem é ou de quão importante seja, deve ser
completamente rejeitado.
A nação de Israel seria o sinal mais importante do fim dos tempos?
Depende
de como se conecta Israel com os sinais do fim. A fundação do Estado de
Israel, a principal democracia no Oriente Médio na atualidade, foi um
dos grandes momentos do turbulento século 20, especialmente depois do
sofrimento indizível do Holocausto (Shoah). Mas, me parece, o sinal
determinante que se espera em conexão com Israel e o fim dos tempos é o
cumprimento da palavra apostólica: “E, assim, todo o Israel será salvo,
como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as
impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus
pecados” (Rm 11.26-27).
http://www.amilenismo.com
domingo, 21 de junho de 2015
O Reino Milenar
No momento
da vinda de Jesus, ele estabelecerá um reino de mil anos ou o reino eterno?
Esse assunto divide os cristãos evangélicos. Nenhum assunto é tão controvertido
em teologia do que o Milênio, e nenhum texto causa mais discussão do que
Apocalipse 20.1-10.
Entraremos nessa discussão acalorada, porém, não
querendo aqui imprimir uma posição intransigente, e até quase fanática, sobre
um assunto que diz respeito ao futuro, e do qual ninguém tem certeza absoluta.
Há tanta controvérsia sobre este assunto que talvez não consigamos achar duas
pessoas que pensem exatamente igual sobre a questão. Há tanta especulação
também, que faz com que seja um dos assuntos mais ingratos a se tratar em
escatologia.
No momento da vinda de Jesus, ele estabelecerá um
reino de mil anos ou o reino eterno? Esse assunto divide os cristãos
evangélicos. Nenhum assunto é tão controvertido em teologia do que o Milênio, e
nenhum texto causa mais discussão do que Apocalipse 20.1-10.
Entraremos nessa discussão acalorada, porém, não
querendo aqui imprimir uma posição intransigente, e até quase fanática, sobre
um assunto que diz respeito ao futuro, e do qual ninguém tem certeza absoluta.
Há tanta controvérsia sobre este assunto que talvez não consigamos achar duas
pessoas que pensem exatamente igual sobre a questão. Há tanta especulação
também, que faz com que seja um dos assuntos mais ingratos a se tratar em
escatologia.
Trataremos do assunto como precisa ser tratado, ou
seja, abordando as principais visões, e emitindo algumas opiniões sobre cada uma
delas, e até mesmo assumindo uma posição. No entanto, entendemos que é um
assunto que não deveria dividir os cristãos. No final, todos crêem que Jesus
virá e estabelecerá um reino eterno. A esperança deste reino não deve diminuir,
quer exista um reino intermediário, quer não.
Correntes Milenistas
Há basicamente quatro posições em relação ao
milênio. São elas: Amilenismo, Pós-Milenismo, Pré-Milenismo Histórico e
Pré-Milenismo Dispensacionalista.
O termo “Amilenismo”, como diz Hoekema, “não é
muito feliz”1, porque sugere que não exista um Milênio. Os
amilenistas acreditam no milênio de Apocalipse 20, porém, não acham que diga
respeito a um reino de mil anos literais que Cristo estabelecerá na terra
depois da sua vinda. O Amilenismo entende que o milênio de Apocalipse 20 já
está em atividade nesse momento, pois começou com a primeira vinda de Jesus e
terminará na segunda vinda com a instauração dos novos céus e nova terra. Por
isso, para o Amilenismo, o Milênio não é literal, mas espiritual.
O Pós-Milenismo defende que o Milênio também é
antes da segunda vinda, porém, acha que será um tempo de prosperidade e paz
advinda da pregação do Evangelho em todo o mundo. Para o Pós-Milenismo, o mundo
ser tornará gradativamente um lugar muito bom, onde o mal será reduzido ao
mínimo e as nações cooperarão entre si, cristianizando o mundo todo. No final
desta era gloriosa, Satanás será solto, e então, Jesus voltará e o destruirá.
O Pré-Milenismo Histórico interpreta literalmente o
texto de Apocalipse 20.1-10, e entende que o Milênio será estabelecido na
segunda vinda de Jesus, e será um reino de mil anos sobre a terra, onde o
Senhor regerá as nações com cetro de ferro, minimizará o mal existente, e
estabelecerá uma era de ouro, reinando a partir de Jerusalém. Ao final do
Milênio Satanás será solto e convencerá as nações a fazerem guerra contra
Jerusalém. Então, descerá fogo do céu e consumirá as nações rebeldes. Em
seguida o Senhor estabelecerá o Juízo e o tempo eterno.
O Pré-Milenismo Dispensacionalista se parece com o
Pré-Milenismo Histórico em sua expectativa por um milênio futuro e literal,
porém, se difere em detalhes específicos. O Dispensacionalismo distingue pelo
menos duas vindas de Jesus, a primeira para o arrebatamento dos salvos, e a
segunda depois de sete anos de tribulação para o estabelecimento do Milênio. No
Dispensacionalismo há um tratamento diferente entre a igreja e Israel. Mesmo no
Milênio estes dois grupos serão distinguidos. O Dispensacionalismo entende que
a igreja é uma espécie de parêntesis na história de Deus com Israel. Na
primeira vinda de Jesus, o Evangelho foi oferecido aos judeus, mas como eles o
rejeitaram, Deus o ofereceu aos gentios e formou a igreja, porém no fim,
voltará a tratar com Israel. Uma das características principais do Pré-Milenismo,
seja Histórico ou Dispensacionalista é a interpretação literal das passagens do
Antigo Testamento sobre a restauração de Israel, e também do livro do
Apocalipse.
O
seguinte quadro nos ajuda a entender as diferenças entre esses quatro sistemas2:
Amilenismo
|
Pós-Milenismo
|
Pré-M.Histórico
|
Pré-M.Dispens.
|
|
Segunda
Vinda
|
Evento
simples, nenhuma distinção entre arrebatamento e segunda vinda. Início do
Estado Eterno.
|
Evento
simples, nenhuma distinção entre arrebatamento e segunda vinda. Início do Estado
Eterno.
|
Arrebatamento
e segunda vinda simultâneos. Cristo retorna para estabelecer o Milênio.
|
Segunda
vinda em duas fases. Cristo retorna para buscar sua igreja e para estabelecer
o Milênio após 7 anos.
|
Ressurreição
|
Ressurreição
geral de crentes e incrédulos na segunda vinda.
|
Ressurreição
geral de crentes e incrédulos na segunda vinda.
|
Ressurreição
de crentes no início do Milênio e de incrédulos ao final.
|
Três
ressurreições: crentes na segunda vinda, judeus depois dos sete anos,
incrédulos ao final do Milênio.
|
Julgamento
|
Julgamento
geral de todas as pessoas.
|
Julgamento
geral de todas as pessoas.
|
Julgamento
na segunda vinda e depois do Milênio.
|
Julgamento
na vinda, depois da tribulação e depois do Milênio.
|
Tribulação
|
Experimentada
na presente Era.
|
Experimentada
na presente Era.
|
Experimentada
na presente Era.
|
Igreja
é arrebatada antes da tribulação.
|
Milênio
|
Não
literal. Crentes reinam com Cristo no céu e sobre a terra até a Segunda
Vinda.
|
A
presente era entrará no Milênio pelo progresso dos povos mediante o
Evangelho.
|
Milênio
futuro após a Vinda de Jesus. Reino milenar literal sobre as nações do mundo.
|
Milênio
futuro após a Vinda de Jesus. Reino milenar literal sobre as nações do mundo.
|
Israel
e a igreja
|
Igreja
é Israel no Novo Testamento. Nenhuma distinção entre Israel e igreja.
|
Igreja
é Israel no Novo Testamento. Nenhuma distinção entre Israel e igreja.
|
Igreja
é Israel no Novo Testamento, porém, Deus tratará com Israel separadamente.
|
Completa
distinção entre Israel e igreja. Deus tem um programa para cada um dos
grupos.
|
Defensores
|
L.
Berkhof
A. Hoekema W. Hendriksen G. C. Berkouwer |
Charles
Hodge
B. Warfield W. G. T Shedd L. Boetnner |
G. E.
Ladd
M. J. Erickson A. Reese |
L. S.
Chafer
J. D. Pentecost J. F. Walvoord |
Todas as quatro posições acima têm encontrado
defensores capacitados, e qual é a verdadeira é uma coisa que só saberemos
depois da vinda de Jesus. De qualquer forma, o que pode ser dito brevemente
sobre cada uma delas é que o Pós-Milenismo que esteve muito em voga nos séculos
passados, depois das guerras mundiais e do avanço da fome e das doenças pelo
mundo, caiu em descrédito, uma vez que a sonhada prosperidade parece estar
muito longe. O Pré-Milenismo Dispensacionalista é bastante recente, e bastante
complicado de se explicar. O maior problema dele é a distinção radical que faz
entre Israel e igreja, dividindo a volta de Jesus e a ressurreição em duas ou
três etapas. O Pré-Milenismo Histórico é mais sóbrio em sua visão, entendendo
que haverá apenas uma vinda de Jesus. O problema desse sistema é o excesso de
literalismo. O Amilenismo é, na nossa opinião, o que faz mais justiça ao ensino
bíblico.
O Aprisionamento de Satanás
O texto de Apocalipse 20.1-3 descreve o
aprisionamento de Satanás. O texto diz: “Então, vi descer do céu um anjo; tinha
na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga
serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo,
fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se
completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco
tempo”. Primeiramente devemos lembrar que este texto foi escrito para cristãos
no primeiro século. O que significava para eles? Significava que as coisas não
eram como pareciam ser. Enquanto os cristãos morriam diariamente nos circos e
anfiteatros romanos, parecia realmente que Satanás estava vencendo, mas João
escreve para mostrar que as coisas não são bem assim, elas não são o que
parecem ser.
O valente
amarrado3
Para entendermos o significado de Apocalipse
20.1-3, precisamos voltar ao início do ministério de Jesus. Os fariseus
acusavam Jesus de expulsar demônios com o poder do próprio Satanás, por isso
Jesus respondeu: “Como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os
bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa” (Mt 12.29). A
palavra “amarrar” aqui é exatamente a mesma na língua grega usada em Apocalipse
20.2 para “segurar”.
Esta tarefa de “amarrar” ou “segurar” Satanás
começou na primeira vinda de Cristo. Quando Jesus enviou os 70 discípulos para
pregar o Evangelho, eles voltaram radiantes porque até os demônios lhe eram
submissos, então Jesus disse: “Eu via a Satanás caindo do céu como um
relâmpago” (Lc 10.17-18). Note que a queda de Satanás é associada à pregação do
Evangelho. Do mesmo modo, quando alguns gregos vieram para conversar com Jesus,
ele disse: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe
será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”
(Jo 12.31-32).
É preciso notar que a palavra “expulsar” no texto
grego é exatamente a mesma de Apocalipse 20.3 onde é traduzida como “lançou”. O
mais importante, porém, é que com a morte de Cristo e a expulsão de Satanás,
Jesus disse que atrairia a si todos os homens. Não apenas judeus, mas também
gregos, romanos, chineses, portugueses, brasileiros, etc. Até a primeira vinda
de Jesus, apenas Israel conhecia o Senhor, sendo que Satanás prendia as demais
nações em ignorância praticamente absoluta.
Mas, com a vinda do Senhor, o poder do diabo foi
drasticamente limitado e ele agora já não pode mais enganar as nações, pois não
pode impedir a pregação do Evangelho em toda a terra4. A única
restrição ao Diabo em Apocalipse 20.3 é que ele não pode mais enganar as
nações, portanto, o amilenismo entende que Apocalipse 20.1-3 narra, não uma
prisão futura de Satanás, mas a restrição que Deus impôs sobre ele com a
primeira vinda e Jesus. Foi graças a este aprisionamento que alguns simples
galileus do primeiro século, em algumas décadas, conseguiram levar o Evangelho
a todo o mundo civilizado.
Hoje, não há um único país que não tenha algum
missionário e muitos convertidos ao cristianismo. A Bíblia já foi traduzida em
mais de mil línguas. Portanto, o milênio do Apocalipse 20 é a realidade do
mundo atual. Ele começou com a primeira vinda de Cristo. Os 1000 anos do
capítulo 20 correspondem aos 1260 dias das outras partes do livro, ou seja, o
total de anos da dispensação cristã, e é apenas um número simbólico.
Alguém pode dizer: mas como Satanás está amarrado
se o mundo está desse jeito? ele está amarrado, mas não completamente
impossibilitado de atuar. O que ele não pode fazer, segundo Apocalipse 20.3 é
enganar as nações. É dito que após o fim do Milênio ele reúne as nações para
pelejar contra a igreja (Ap 20.8). No tempo presente, ele não consegue fazer
esse tipo de movimentação de nações contra o povo de Deus5, até
porque, há nações que ainda são cristãs. Além disso, deve ser verificado que
nosso Senhor e os Apóstolos empregaram palavras ainda mais fortes do que
“prender” ou “expulsar” para descrever a derrota de Satanás que já aconteceu.
Além dos textos que já vimos acima, podemos citar
Hebreus 2.14: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e
sangue, destes também ele (Jesus), igualmente, participou, para que, por sua
morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. Este
texto está dizendo que Jesus destruiu Satanás com sua morte. Esta é uma
expressão bem mais forte do que “prender” ou “lançar no abismo”. Diante deste
texto, alguém pode negar que Satanás já está destruído? Mas então como ele
continua agindo? ele está destruído porque já não tem qualquer chance de
vitória.
Colossenses 2.15 também deixa bem claro que Satanás
está totalmente derrotado: “E, despojando os principados e as potestades,
publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. A linguagem deste
texto é militar. Paulo está comparando o que Jesus fez com Satanás e suas
hostes, com o que os exércitos romanos faziam com os vencidos. Naquele tempo,
quando um exército vencia o outro, os perdedores eram despojados de todos os
seus bens, e às vezes até das próprias roupas. Em seguida eram amarrados e
obrigados a desfilar pelas ruas, numa humilhação pública. Jesus despojou
Satanás e o humilhou perante todos com sua morte e ressurreição. Portanto, a
expressão “prendeu por mil anos” pode significar perfeitamente a obra que Jesus
realizou na cruz contra Satanás.
Sequência
não-cronológica
Os
Pré-Milenistas interpretam o texto de Apocalipse 20 como acontecendo depois da
volta de Jesus, porque entendem que o capítulo 20 segue cronologicamente o
capítulo 19. Porém, o Apocalipse não é um livro que deva ser lido em ordem
cronológica. Narrando coisas que dizem respeito ao fim, João freqüentemente
volta aos primórdios do Evangelho a fim de dar o entendimento global da batalha
do mal contra o bem.
Ao
chegarmos no capítulo 20 do Apocalipse, já fomos informados como praticamente
todos os inimigos de Cristo encontrarão o seu fim. Mas, ainda resta um, o pior
de todos, Satanás. Sua derrota já foi decretada e anunciada (12.12), mas não
foi ainda explicada, pois João deixou esta explicação para o final. João já
disse que Satanás perdeu seu lugar no céu, após a batalha com Miguel (Ap 12). O
que ele está fazendo no capítulo 20 é demonstrar como foi realmente essa
derrota.
Não podemos entender Apocalipse 20-22 como sendo uma continuação do capítulo 19.
Não podemos entender Apocalipse 20-22 como sendo uma continuação do capítulo 19.
Provavelmente
a maneira mais correta de interpretar o Apocalipse é entendendo que são
descritas sete seções paralelas. É como se João contasse a mesma história pelo
menos sete vezes, porém, cada vez, ele acrescenta detalhes que não estavam nas
descrições anteriores. É somente no último ciclo, ou seja, quando ele reconta a
história pela última vez, que ela fica completa. A divisão que Hendriksen
propõe é a seguinte:
A
Primeira Seção: “Cristo no meio dos sete candeeiros” (Ap 1-3).
A Segunda Seção: “A Visão do céu e dos Sete Selos” (Ap 4.1-7.17).
A Terceira Seção: “As Sete Trombetas” (Ap 8-11).
A Quarta Seção: “O Dragão Perseguidor” (Ap 12.2-14.20).
A Quinta Seção: “As Sete Taças” (Ap 15.1-16.21).
A Sexta Seção: “A queda da Babilônia” (Ap 17.1-19.21).
A Sétima Seção: “A Grande Consumação” (Ap 20.1-22.21)6.
A Segunda Seção: “A Visão do céu e dos Sete Selos” (Ap 4.1-7.17).
A Terceira Seção: “As Sete Trombetas” (Ap 8-11).
A Quarta Seção: “O Dragão Perseguidor” (Ap 12.2-14.20).
A Quinta Seção: “As Sete Taças” (Ap 15.1-16.21).
A Sexta Seção: “A queda da Babilônia” (Ap 17.1-19.21).
A Sétima Seção: “A Grande Consumação” (Ap 20.1-22.21)6.
De fato
no capítulo 20 se inicia uma nova seção que vai descrever outra vez a
dispensação cristã como um todo, desde a primeira vinda de Jesus até sua
segunda vinda e o juízo final, como fizeram todas as seis seções ou ciclos
anteriores. Repare que a segunda vinda de Cristo e o julgamento do mundo haviam
sido anunciados em todas as seis seções anteriores.
Veja como
o sexto selo na segunda seção descreve o fim do mundo em cores vívidas
(6.12-17). Da mesma forma na sétima trombeta da terceira seção, a consumação de
todas as coisas é claramente descrita (11.15-19). E este acontecimento é também
descrito em 14.14-20 no final da quarta seção, com o acréscimo de detalhes de
como será a separação entre os crentes e os ímpios.
Note que
neste texto os crentes são ceifados e recolhidos no celeiro, enquanto que os
ímpios são pisados como se fossem uvas. Assim também o sétimo flagelo da quinta
seção descreve o fim de tudo, mas aqui é pela primeira vez descrita uma batalha
antes do fim, a batalha do Armagedom (16.12-21). Mas, a explicação mais clara
desta batalha está no final da sexta seção onde o cavaleiro montado no cavalo
branco desce para destruir os exércitos do diabo e dos seus aliados. Portanto,
João está recontando pela sétima e última vez como é a derrota do mal.
É muito
difícil que Apocalipse 20 seja uma descrição do que acontece depois de
Apocalipse 19, pois no capítulo 19 já aconteceu a consumação. Os ímpios foram
vindimados na batalha do Armagedom e os homens rebeldes foram mortos (19.21).
No capítulo 20 a história é recontada a fim de explicar como será destruído o
último inimigo, Satanás, e assim, todos os detalhes se completam.
Em defesa
desta posição Hendriksen mostra o paralelo que há entre os capítulos 11-14 e
20-227:
Apocalipse 11 a 14
|
Apocalipse 20
|
12.5-12.
Em conexão com o nascimento, morte ascensão e coroação de Cristo, Satanás é
lan-çado do céu. Suas acusações perderam toda aparência de verdade.
|
20.1-3.
Satanás é atado e lançado no abismo;seu poder sobre as nações é reprimido. Ao
invês de nações conquistarem a igreja, esta é que começa a conquistar as
nações.
|
14.2-6;
12.14-18. Um longo período de poder e constante testemunho por parte da
igreja, que é sustentada “longe da face da serpente”. A influência do diabo é
restringida.
|
20.2.
Um longo período de poder exercido pela igreja. Satanás tem estado amarrado.
Ele permanece amarrado por mil anos, ou seja, a dispensação cristã inteira.
|
11.7-14;
13.7. Um período muito curto da mais severa perseguição. Este é o pouco tempo
de Satanás: a mais terrível e também a final manifestação do poder
perseguidor do Anticristo.
|
20.7-10.
Um período muito curto da mais severa perseguição: Satanás dirige o exército
de Gogue e Magogue contra a igreja. Esta é a Batalha do Armagedom.
|
11.17-18;
14.14-18. A única e tão-somente
segunda vinda de Cristo para juízo. |
20.11.
A única e tão-somente segunda vinda de Cristo para juízo.
|
Os Santos reinam
Em seguida, Apocalipse 20.4-6 narra um reinado
milenar. Aqueles que seguem uma abordagem cronológica do capítulo 20, dizem que
todos estes acontecimentos seguem o 19. Então, na segunda vinda de Jesus,
Satanás seria preso, e, em seguida, haveria a primeira ressurreição e os
crentes reinariam com Cristo por mil anos na terra. Depois destes mil anos
haveria a segunda ressurreição somente dos ímpios para o juízo. Nossa
dificuldade com esta interpretação já foi descrita acima. Não cremos que o
capítulo 20 seja uma seqüência do 19, mas que recomeça um novo ciclo. Vimos que
a derrota e a prisão de Satanás já aconteceram na primeira vinda de Jesus.
Tronos no
céu
Mas, há uma dificuldade ainda maior em pensar que o
milênio começa com a ressurreição dos crentes. João não diz que vê corpos
reinando com Cristo na terra, mas “almas” (Ap 20.4). Ele diz que viu tronos, e
sentados nestes tronos aqueles que têm a autoridade de julgar. Quem estão
assentados nestes tronos? São as almas que João viu. O texto grego não contém a
expressão “vi ainda”, como se fosse um grupo diferente daquele que está
assentado nos tronos. Diz simplesmente: “E as almas dos decapitados por causa
do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a
besta, nem tão pouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão;
e viveram e reinaram com Cristo durante os mil anos” (Ap 20.4).
Note que estas almas estão “vivendo” com Cristo e
reinando por mil anos. A expressão “e viveram” (no grego ezesan) não significa
necessariamente “e ressuscitaram”, até porque a palavra grega “ressuscitaram” é
outra (anastásei). O texto nos diz que as almas dos que morreram estão
“vivendo” e reinando com Cristo por mil anos, que é o tempo inteiro da
dispensação cristã, desde a primeira vinda de Cristo até a segunda vinda. Além
disso, estes tronos certamente devem estar no céu, pois como diz W. J. Grier,
“sempre que se faz referência a tronos, no Apocalipse, quer se trate do de
Cristo, quer dos de Seu povo, são localizados no céu”8. (Ver Ap
4.4).E como diz Kistemaker, “o vocabulário de tronos, juízo e almas representa
uma cena celestial”9.
Quando João diz que os restantes dos mortos não
reviveram “até que se completassem os mil anos” e chama o acontecimento de
“viver” de primeira ressurreição, ele não está dizendo que isso vai acontecer
depois do milênio. Aliás, a palavra “reviveram” é a mesma usada para “viveram”
no verso anterior. O que João quer dizer é que os mortos sem Cristo continuaram
mortos física e espiritualmente, e depois do milênio vão ressuscitar, mas para
entrar na morte eterna. Portanto, a primeira ressurreição aqui é o “viver” com
Cristo no céu.
Os ímpios não vão “viver” com Cristo no céu até o
dia da ressurreição final. Aquele que tem parte na primeira ressurreição
(espiritual) vai para o céu, e não precisa temer a segunda morte que é o Lago
de Fogo. Nem seria preciso falar algo assim se os cristãos já estivessem com
seu novo corpo aqui na terra. Num resumo: “Os que pertencem a Cristo morrem uma
vez, porém ressurgem duas vezes (espiritual e fisicamente), enquanto os que o
têm rejeitado ressurgem uma vez, porém morrem duas vezes (física e
espiritualmente)”10.
As pessoas que João viu no céu (decapitados como
Paulo e João Batista) ascenderam espiritualmente ao céu (primeira
ressurreição), e ressuscitarão fisicamente na vinda de Jesus. As pessoas que
morrem sem Cristo não vão ao céu (não tem parte na primeira ressurreição), mas
ressuscitarão na vinda de Jesus para o grande julgamento.
A
situação dos mortos
Um argumento que reforça esta interpretação vem de
outras partes do livro de Apocalipse. Devemos sempre lembrar que João está
escrevendo para cristãos do primeiro século. Aqueles cristãos estavam sofrendo
grandes perseguições. Muitos já haviam morrido por causa do Evangelho. Era
natural que a igreja se perguntasse: O que aconteceu com os cristãos que foram
martirizados? Deus não vai fazer nada para vingá-los? Em praticamente todas as
seções, João dá informações sobre esses mortos.
No capítulo 6, ele diz que viu as almas daqueles
que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho
que sustentavam. Essas almas estavam debaixo do altar de Deus, e clamavam por
vingança. Foi lhes dito que deviam esperar, vestidas de vestiduras brancas, até
que se completasse o número dos mártires (Ver Ap 6.9-11).
No capítulo 7, João dá mais informações sobre os
mártires. Ele diz que “se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de
noite no seu santuário. E aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o
seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles
o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os
apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará
dos olhos toda lágrima” (Ap 7.15-17). Ou seja, João está tentando consolar os
amigos e parentes das vítimas, dizendo que elas estão numa posição
privilegiada.
No capítulo 14, João diz que os mortos no Senhor
são “bem-aventurados”, podem descansar de suas fadigas, pois suas obras os
acompanham (Ap 14.13).No capítulo 20, ele torna a ver as almas destes mártires,
e agora acrescenta que além de estarem num estado de bem-aventurança, estão
reinando com Cristo e serão os próprios juízes de seus algozes (Ap 20.4).
Portanto, na sequência lógica do Apocalipse, este
texto não está falando coisa alguma sobre um reino literal e terreno de Cristo
sobre a terra durante mil anos, mas da situação dos mortos em Cristo no céu,
durante todo o tempo da dispensação cristã.
Como já vimos, aqueles que reinam com Cristo por
mil anos não são pessoas ressuscitadas fisicamente, mas almas que reinam no
céu. Neste ponto, há mais uma dificuldade para a interpretação pré-milenista
que é o fato de que o texto localiza apenas dois grupos de pessoas que reinam
com Cristo, e são os “decapitados por causa do testemunho de Jesus e os que não
adoraram a besta”. Cadê o resto dos crentes mortos?
Além disso, está falando apenas dos que morreram, e
se eles ressuscitaram fisicamente, onde estão os vivos que serão transformados?
Eles não participam do milênio? Como diz Hoekema, “não há nada dito aqui acerca
de crentes que não morreram, mas ainda estavam vivos quando Cristo retornou”11.
Mas quando lembramos que João está querendo explicar justamente a situação dos
mártires, toda dificuldade desaparece.
Números
não literais
A interpretação literal dos mil anos no texto não
se justifica facilmente. Qualquer pré-milenista sabe, por exemplo, que a
corrente que prende Satanás não é física, é espiritual. Portanto, ninguém
interpreta isto literalmente. Então, por que o número 1000 deve ser
interpretado literalmente? Além disso, porque nessa passagem este número deve
ser interpretado de forma literal, se todos os outros números do Apocalipse não
são? Por exemplo, será que há sete Espíritos Santos, ou apenas um? (Ap 3.1;
4.5). Será que Jesus é literalmente um Cordeiro que tem sete chifres e sete
olhos? (Ap 5.6). Será que correu sangue pela morte dos ímpios por 1600 estádios
(296 Km)? (Ap 14.20). Será que a Nova Jerusalém possui 12000 estádios (2219
Km)? (Ap 21.16). Evidentemente que ninguém interpreta estes números
literalmente, pois são claramente simbólicos. Mas, então por que o número 1000
teria que ser literal em Apocalipse 20.3-4.
Ainda deve ser considerado que a existência de um
milênio literal somente pode ser deduzida do texto de Apocalipse 20.1-4. Nenhum
outro lugar na Escritura fala em algo parecido. E como já vimos, Apocalipse
20.1-4 não precisa ser interpretado literalmente. No restante das Escrituras
não existe a menor indicação de um milênio intermediário entre a era atual e a
era eterna. Jesus, nas parábolas (Mt 13.24-30, 36-43, 47-50; Lc 19.11-27; Mt
25.14-30), e na descrição do julgamento em Mateus 25, não falou de um reino
intermediário depois da sua vinda. Ele disse que sua vinda traria o julgamento
e o estado final dos homens. A mesma idéia pode ser vista em toda a Bíblia.
Sempre que o Novo Testamento fala do futuro não diz que haverá um reino para
Israel na Segunda Vinda de Jesus, mas que quando Jesus voltar, será
estabelecido o Novo céu e a nova terra (2Pe 3.1-13).
A Última
Batalha
Em Apocalipse 20.7-10 há a descrição da rebelião
final, onde Satanás reúne as nações para pelejarem contra o Senhor. Que batalha
é esta, se no capítulo 19 os inimigos de Cristo já foram destruídos? Que nações
são estas cujo número é como a areia do mar, se os homens já foram mortos em
Apocalipse 19.21? Na verdade, não são batalhas diferentes, mas duas descrições
da mesma batalha. É dito que no fim do milênio, Satanás será solto. Solto de
quê? De sua prisão que o incapacitava de enganar as nações a fim de reuni-las
contra a igreja de Deus. Note que ele vai seduzir as nações nos quatro cantos
da terra.
Que esta é a batalha do Armagedom podemos inferir
por causa da referência a Gogue e Magogue. Gogue era o príncipe de Magogue. É
dito em Ezequiel 38.2 que Gogue também é príncipe de Rôs, Meseque e Tubal.
Estas três regiões ficavam em algum lugar onde hoje é a Turquia. E todo este
território foi conquistado depois de Ezequiel pelos selêucidas, principalmente
nos tempos de Antíoco Epifânes o mais cruel inimigo dos judeus, que foi
governador da Síria. Este homem foi o mais perfeito tipo do Anticristo no
Antigo Testamento. Portanto, a referência a Gogue, nesta última batalha, é uma
referência novamente às forças do Anticristo que tentarão pelejar contra o
Cordeiro.
João não descreve a derrota do Anticristo aqui,
porque já a descreveu antes, e agora ele está interessado em descrever a
derrota do Dragão, que na mesma batalha do Armagedom na única vinda de Cristo,
foi também aprisionado no lago de fogo. O fato de João dizer que a besta e o
falso profeta já estavam no lago de fogo (Ap 20.10) significa apenas que ele já
havia narrado este acontecimento antes, até porque a besta e o falso profeta
são o governo e a religião anticristã de Satanás. João deixou para narrar no
fim, a maneira como o Dragão será destruído.
O Cumprimento das Profecias do AT
Talvez a maior razão porque os pré-milenistas
insistem num reino literal e terreno de mil anos seja por causa de sua visão
das profecias do Antigo Testamento. Como já dissemos, não há qualquer texto que
fale em mil anos de reino, mas os pré-milenistas olham para as profecias de
Isaías, Ezequiel, Amós, Zacarias e outros, que falam sobre um futuro glorioso
para Israel, e imaginam que isto acontecerá numa volta futura de Israel das
várias nações ao redor do mundo, para a terra da promessa. Pensam que isto
precisa se cumprir literalmente. Nesse sentido, vêem o retorno de Israel para a
Palestina após a Segunda Grande Guerra, como um indício do cumprimento
histórico das
profecias.
profecias.
A intepretação amilenista entende que estas
profecias se cumpriram literalmente na volta de Israel do cativeiro da
Babilônia, ou se cumprem espiritualmente na igreja que é o Israel no Novo
Testamento, ou ainda se cumprem no Novo céu e nova terra. Não há a necessidade
de um reino milenar para que elas se cupram.
Primeiramente devemos entender que interpretar
literalmente todas as profecias do Antigo Testamento pode conduzir a absurdos.
Como nota W. J. Grier, “a própria profecia do Velho Testamento contém uma
advertência contra tal literalismo. Deus disse que falaria aos profetas do
Antigo Testamento em sonhos e visões e em palavras obscuras (Nm 12.6-8; Os
12.10)”12. Por exemplo, quando Ezequiel diz que o povo retornará à sua terra
diz que Davi reinará sobre os que voltarem (Ez 37.24). Se isso for interpretado
de forma literal, Davi precisaria reencarnar para reinar sobre Israel. E além
disso, o que não pode ser esquecido é que muitas profecias proferidas à nação
de Israel eram condicionais.
Por exemplo, quando Deus chamou o povo de Israel do
Egito lhes prometeu uma nova terra, porém, devido à desobediência deles, foram
privados desse benefício (Nm 14.23). Com relação ao próprio reino eterno da
descendência de Davi, a promessa era condicional. Davi entendeu isso, pois
disse em seu leito de morte ao seu filho Salomão:
Eu vou pelo caminho de todos os
mortais. Coragem, pois, e sê homem! Guarda os preceitos do SENHOR, teu Deus,
para andares nos seus caminhos, para guardares os seus estatutos, e os seus
mandamentos, e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na lei
de Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres e por onde quer que fores;
para que o SENHOR confirme a palavra que falou de mim, dizendo: Se teus filhos guardarem
o seu caminho, para andarem perante a minha face fielmente, de todo o seu
coração e de toda a sua alma, nunca te faltará sucessor ao trono de Israel (1Rs
2.2-4).
Do mesmo modo, as promessas de Deus de prosperidade
para a nação de Israel estavam condicionadas à obediência. Uma vez que a nação
não permaneceu em obediência, Deus não se viu obrigado a cumprir todas as
promessas.
Ao considerar algumas das principais profecias do
Antigo Testamento, as quais são geralmente usadas para a defesa de um Milênio
literal e terrestre, podemos perceber que elas não exigem um cumprimento
literal num Milênio. Uma das principais passagens do Antigo Testamento usadas
para defender o Milênio é Isaías 65.17-25. Neste texto Isaías fala da
restauração de todas as coisas: “Não haverá mais nela criança para viver poucos
dias, nem velho que não cumpra os seus; porque morrer aos cem anos é morrer
ainda jovem, e quem pecar só aos cem anos será amaldiçoado” (Is 65.20).
Diz que: “A longevidade do meu povo será como a da
árvore, e os meus eleitos desfrutarão de todo as obras das suas próprias mãos”
(Is 65.22). E diz que naquele tempo: “O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o
leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem
dano algum em todo o meu santo monte, diz o SENHOR” (Is 65.25). Os
pré-milenistas dizem que esta descrição não pode se referir ao tempo eterno
porque há referência a morte e ao pecado. Porém deve ser entendido que Isaías
usa figuras de coisas que os homens podem entender, mas está falando dos “novos
céus e nova terra”, conforme ele deixa bem claro no verso 17.
E o Apocalipse diz que os novos céus e nova terra
compõem o estado final do universo e não o Milênio. Isaías descreve os tempos
eternos em linguagem que as pessoas daquele tempo podiam entender. Ele usa
expressões que indicam longevidade e prosperidade em linguagem que deve ser
entendida figurada e não literalmente.
Outro texto bastante usado para a defesa do Milênio é o capítulo 11 de Isaías. O texto diz que um rebento de Jessé será levantado (vs. 1), o qual terá sabedoria para reconduzir o povo (vs. 2-5). Neste tempo, “o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará (...) A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (vs. 6-9). Esta também não é uma descrição do Milênio. Ela se parece bastante com a outra descrição que já vimos acima no capítulo 65, e que Isaías disse pertencer à nova terra e aos novos céus. Isaías está falando de um tempo de perfeição, onde a terra se encherá do conhecimento do Senhor. Isso é muito superior ao que teria que acontecer no Milênio onde ainda haveria povos dispostos a se rebelar contra o Senhor. Dos versos 10-16 Isaías fala da restauração de Israel.
Outro texto bastante usado para a defesa do Milênio é o capítulo 11 de Isaías. O texto diz que um rebento de Jessé será levantado (vs. 1), o qual terá sabedoria para reconduzir o povo (vs. 2-5). Neste tempo, “o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará (...) A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (vs. 6-9). Esta também não é uma descrição do Milênio. Ela se parece bastante com a outra descrição que já vimos acima no capítulo 65, e que Isaías disse pertencer à nova terra e aos novos céus. Isaías está falando de um tempo de perfeição, onde a terra se encherá do conhecimento do Senhor. Isso é muito superior ao que teria que acontecer no Milênio onde ainda haveria povos dispostos a se rebelar contra o Senhor. Dos versos 10-16 Isaías fala da restauração de Israel.
Não podemos entender esta passagem sem lembrar que
o povo de Israel foi levado cativo para a Assíria e o povo de Judá para a
Babilônia. Isaías diz que o povo voltaria para sua terra. Isto de fato se
cumpriu 70 anos depois do cativeiro, quando o povo retornou do Exílio. O verso
16 diz: “Haverá caminho plano para o restante do seu povo, que for deixado, da
Assíria, como o houve para Israel no dia em que subiu da terra do Egito”. Este
verso teve um cumprimento literal no dia em que Israel voltou do cativeiro.
É evidente que a profecia vai além disso, mas por que
pensar num Milênio intermediário se a profecia pode se referir em linguagem
figurada aos novos céus e nova terra? Como diz Hoekema, “na há razão
obrigatória para entendermos este tipo de passagens do Velho Testamento, de
modo a descrever um reino milenar futuro”13. Estas profecias se cumprem no
retorno de Israel do cativeiro, na primeira vinda de Jesus, ou finalmente
descrevem a nova terra que será estabelecida na segunda vinda de Jesus14.
O próprio Novo Testamento interpreta profecias que
descrevem a restauração de Israel como não literais. Um exemplo basta para
perceber isso. Amós 9.11-12 diz: “Naquele dia, levantarei o tabernáculo caído
de Davi, repararei as suas brechas; e, levantando-o das suas ruínas,
restaurá-lo-ei como fora nos dias da antiguidade; para que possuam o restante
de Edom e todas as nações que são chamadas pelo meu nome, diz o SENHOR, que faz
estas coisas”. Em Atos 15.14-18 temos a interpretação do cumprimento figurado
desta profecia. Tiago entende que se cumpriu quando Deus incluiu os gentios na
comunidade do povo de Deus. Portanto, se o próprio Novo Testamento demonstra
que as profecias do Antigo Testamento não precisam ser cumpridas literalmente,
por que nós deveríamos insistir nisso?
Dificuldades adicionais
Falar num milênio terreno envolve algumas
contradições adicionais: Por que razão, depois dos crentes terem ressuscitado
ainda teriam que viver mil anos numa terra imperfeita? De certa forma, as
coisas não seriam muito diferentes do que são hoje. Somos convertidos e desejamos
uma nova era, porém ainda temos que sofrer com este mundo decaído. Imagine
pessoas já ressuscitadas ainda tendo que viver numa terra decaída.
Outra coisa estranha é a idéia de que haverá
pessoas com corpo glorificado vivendo junto com pessoas sem corpo glorificado.
Que tipo de relacionamento poderia existir entre essas pessoas. Umas morrem,
outras são eternas. E como podem as nações se rebelarem contra o Senhor depois
do milênio na soltura de Satanás? Não terá adiantado nada os mil anos de
prosperidade do Senhor na terra? Finalmente, é muito estranha a idéia de haver
salvação depois da vinda do Senhor. Como serão salvos os ímpios durante o
milênio? Eles terão que ouvir o Evangelho e crer?
A Bíblia diz que fé é acreditar no que não pode ser
visto (Hb 11.1), mas naquele momento todos verão Jesus reinando dum trono
terreno em Jerusalém. Isto seria injusto, se considerarmos que todos os demais
que viveram antes do milênio tiveram que crer com bem menos evidência. Embora
não possamos ser dogmáticos, porque o Senhor conduzirá a história segundo seu
propósito, estas observações demonstram que a existência de um Milênio literal
traz mais complicações do que soluções.
Concluindo, percebemos que há evidências de sobra
para não interpretar o texto de Apocalipse 20.1-10 de forma literal. Mas
insistimos na tese de que este assunto não deve dividir os cristãos. Ter
expectativas diferentes em relação à segunda vinda é melhor do que não ter
expectativa alguma. O que importa é que ele virá, e que haverá pessoas o
aguardando. Quer naquele momento ele inaugure o milênio, quer inaugure o tempo
eterno, de qualquer maneira, estaremos para sempre juntos com o Senhor.
1 Antony
Hoekema. A Bíblia e o Futuro, p. 223.
2 O quadro é retirado de Paul Enns. The Moody Handbook of Theology, Tópico: “Amillennialism”.
3 A exposição a seguir segue em linhas gerais William Hendriksen. Mais Que Vencedores, p. 217-225.
4 Ver Simon Kistemaker. Apocalipse, p. 673-674.
5 Ver W. J. Grier. O Maior de Todos os Acontecimentos, p. 126-127.
6 Ver William Hendriksen. Mais Que Vencedores, p. 26-35.
7 William Hendriksen. Mais Que Vencedores, p. 218.
8 W. J. Grier. O Maior de Todos os Acontecimentos, p. 128.
9 Simon Kistemaker. Apocalipse, p. 675.
10 Simon Kistemaker. Apocalipse, p. 680.
11 Antony Hoekema. A Bíblia e o Futuro, p. 244.
12 W. J. Grier. O Maior de Todos os Acontecimentos, p. 36.
13 Antony Hoekema. A Bíblia e o Futuro, p. 274.
14 Outras passagens que podem ser interpretadas neste sentido sem sugerir a idéia do Milênio são: Jr 23.3-8; Ez 34.12-13; Ez 36.24; Zc 8.7-8; Am 9.14-15, etc.
2 O quadro é retirado de Paul Enns. The Moody Handbook of Theology, Tópico: “Amillennialism”.
3 A exposição a seguir segue em linhas gerais William Hendriksen. Mais Que Vencedores, p. 217-225.
4 Ver Simon Kistemaker. Apocalipse, p. 673-674.
5 Ver W. J. Grier. O Maior de Todos os Acontecimentos, p. 126-127.
6 Ver William Hendriksen. Mais Que Vencedores, p. 26-35.
7 William Hendriksen. Mais Que Vencedores, p. 218.
8 W. J. Grier. O Maior de Todos os Acontecimentos, p. 128.
9 Simon Kistemaker. Apocalipse, p. 675.
10 Simon Kistemaker. Apocalipse, p. 680.
11 Antony Hoekema. A Bíblia e o Futuro, p. 244.
12 W. J. Grier. O Maior de Todos os Acontecimentos, p. 36.
13 Antony Hoekema. A Bíblia e o Futuro, p. 274.
14 Outras passagens que podem ser interpretadas neste sentido sem sugerir a idéia do Milênio são: Jr 23.3-8; Ez 34.12-13; Ez 36.24; Zc 8.7-8; Am 9.14-15, etc.
Escrito
por: Leandro Lima
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