terça-feira, 4 de agosto de 2015

A Marca da Besta.




 “fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na testa, para que ninguém pudesse comprar ou vender, senão aquele que tivesse o sinal…” (Ap 13:16-17)
Assim como é o caso do número da besta, a marca da besta também sempre foi causa de muita especulação. Muitos daqueles que interpretam a besta como significando algo contemporâneo ou futuro a nós que estamos no século XXI acreditam que a marca da besta será algum tipo de chip implantado sob a pele das pessoas de forma que esse se torne o único meio de efetuar transações econômicas. Costumam acreditar que existe em nosso próprio tempo uma conspiração mundial para unificar todo o sistema econômico do mundo de forma que tudo seja submetido ao poder da besta. Mas em um livro cheio de dragões, bestas e criaturas semelhantes, é fatal achar que não devemos pensar duas vezes antes de entender as visões literalmente. Devemos comparar Escritura com Escritura e não Escritura com nossa própria imaginação para chegar a conclusões sólidas sobre o que cada símbolo significa. Devemos procurar na própria Bíblia pistas pra compreender o que o Apocalipse significa em fez de deixar nossa imaginação voar com base no noticiário do dia.
A ideia de um povo sendo marcado na testa ou na mão tem origem no livro de Deuteronômio: “Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás porsinal na tua mão e te serão por frontais entre seus olhos”. (Dt 6.4-8) Este mandamento foi citado por Jesus Cristo como sendo maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento”. (Mt 22.36-38) O coração, sendo um órgão de nosso corpo, não pode ser aberto por meio de uma cirurgia pra que literalmente escrevamos palavras lá. Também não era possível que toda a Lei de Deus fosse literalmente atada na mão ou na testa entre os olhos . A ordem de Deus aqui não pode possivelmente ser entendida literalmente. A linguagem aqui é evidentemente figurada.
Na Bíblia o coração costuma se referir figuradamente ao centro das vontades, desejos e intenções do homem. Quando Deus diz que sua Lei deve ser inscrita em nossos corações, ele não está mandando que façamos uma cirurgia. Ele está ordenando que nossas vontades e desejos sejam submissos aos seus mandamentos. Assim também, quando ele fala da Lei de Deus na testa diante de nossos olhos, ele está falando figuradamente que devemos amar a Deus “de todo o teu entendimento”. (Mt 22.37) E quando Deus fala de sua Lei atada em nossa mão, ele está falando figuradamente do dever de amá-lo “de todas as tuas forças”. (Dt 6.5)
Esse é o pano de fundo para a visão da marca da besta. Os servos da besta não tem a Lei de Deus atada na testa (mente) ou na mão (força). Eles não prestam obediência a Deus e sim a besta. O objetivo do Apocalipse não era alertar sobre um chip que só viria séculos depois. Era alertar sobre o perigo de prestar obediência e culto aos imperadores de Roma. Era alertar sobre o
perigo de substituir os mandamentos de Jesus Cristo pelos mandamentos de deuses pagãos. Quando João mandou seus destinatários não fossem marcados pela besta, isso realmente era uma possibilidade a eles. Não seria possível somente para nós mais de dois mil anos depois, mas era algo para aqueles que estavam sendo perseguidos e caçados por Roma. Aqueles que se recusavam a adorar Nero eram brutalmente perseguidos. Não podiam levar suas vidas normalmente. Não podiam comprar ou vender. Perdiam a casa, a família, os bens, a honra e até a própria vida.
A marca da besta não é a única marca do Apocalipse. Alguns versos depois, lemos sobre outros que também foram marcados: “E olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o Monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que traziam na testa escrito o nome dele e o nome de seu Pai”. (Ap 14.1) Esta não era uma tatuagem que Deus faria na testa de seus eleitos. É somente uma forma figurada de falar da obediência daqueles que tiveram coragem de resistir ao Império. Podiam ser roubados, perseguidos e brutalmente assassinados. Mas “venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte”. (Ap 12.11) Isto é o que o próprio Jesus já havia ensinado: “Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á”. (Mt 10.39)

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